quarta-feira, 4 de maio de 2011

Em homenagem ao A. pela conversa de hoje.
Porque me permitiu, se não se importam, um link com o livro de P.
Nem a perfeição, nem tampouco a verdade existem.
Mas aí está o ponto legal (pelo menos eu me convenço disso).
Busco a perfeição, cada dia mais, mesmo sabendo que à ela não chegamos,
assim como a ciência busca a verdade, embora à ela apenas se aproxime.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Fome demais



E anda com tanta fome...

Fome de literatura, fome de poesia, fome de aventura e fome de melodia.

E anda com fome de partir, fome de viajar, fome de sentir, fome demais para acordar.

E anda com fome de se despir, de imaginar, de não controlar, de cair.

Fome de cair caindo, de deixar o vento segurar, o coração palpitar, o medo superar.

Fome dessa gravidade, que para sentir, não ter idade.

Fome de não querer apertar o botão, só quando quase atingir o chão.

E daí, fome de tocar a terra molhada, fome do sereno que cai durante a madrugada.

Fome de deitar na relva, sob a luz do luar. Fome de sentir na pele, fome de aliviar.

E essa fome de sonhar acordada, de olhar para o nada.

Fome demais, até ficar breve...

domingo, 17 de abril de 2011

“- Sabe.. eu ainda tenho vontade de viver aquela história de novo.”. Ela me disse.

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- E por que não?

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“- Ah.. já ficou no passado. Acho que agora eu poderia viver ela de uma forma mais madura. Com toda a podridão, se eu pudesse voltar atrás, ou melhor.. começar de novo.. Porque acho que hoje eu viveria sem aquela cegueira da paixão e, ainda assim, sedentamente, com uma sede de paixão sem fim.”.

terça-feira, 12 de abril de 2011

O funil(a)


Uma conversa a três a respeito, nos desculpem o pleonasmo, do funil que afunila. Que afunila cada vez mais, ao ponto de um dia, talvez à contragosto, não passar nem uma gota d'água rubra com gosto. Azeda, azeda essa ideia que de, tão só, evapora a gota que pelo funil não desce. Se desvanece. Conversam a música, o aroma e o sabor. Conversam a solidão, a ausência e a vontade de potência. Conversam sobre isso que é e não é. Sobre um futuro que, de tão longe, é sentido ao lado. O futuro que mora ao lado. Conversam sobre o que pode ser e o que virá a acontecer. E daí tentam transformar tudo o que falam no não entendível, no não audível, na falta. Pois a melodia invadiu e tornou tudo um vácuo, em espaço branco que, de tão branco, não é relativo e não se sabe branco.

segunda-feira, 7 de março de 2011



Não há coisa alguma que persista em todo o Universo. Tudo flui, e tudo só apresenta uma imagem passageira. O próprio tempo passa com um movimento contínuo, como um rio... O que foi antes já não é, o que não tinha sido é, e todo instante é uma coisa nova. Vês a noite, próxima do fim, caminhar para o dia, e à claridade do dia suceder a escuridão da noite... Não vês as estações do ano se sucederem, imatando as idades da nossa vida. Com efeito, a primavera, quando surge, é semelhante à criança nova... a planta nova, pouco vigorosa, rebenta em brotos e enche de esperança o agricultor. Tudo florece. O fértil campo resplandece com o colorido das flores, mas ainda falta vigor às folhas. Entra, então, a quadra mais forte e vigorosa, o verão: é a robusta mocidade, decunda e ardente. Chega, por sua vez, o outono: passou o fevor da mocidade, é a quadra da maturidade, o meio-termo entre o jovem e o velho; as têmporas esbranquecem. Vem, depois, o tristonho inverno: é o velho trôpego, cujos cabelos ou caíram como as folhas das árvores, ou, os que restaram, estão brancos como a neve dos caminhos. Também nossos corpos mudam sempre e sem descanso... E também a natureza não descansa e, renovada, entra outras formas nas formas das coisas. Nada morre no vasto mundo, mas tudo assume aspectos novos e variados... todos os seres têm sua origem noutros seres. Existe uma ave a que os fenícios dão o nome de fênix. Não se alimenta de grãos os ervas, mas das lágrimas do incenso e do suco da amônia. Quando completa cinco séculos de vida, constrói um ninho no alto de uma grande palmeira, feito de folhas de canela, do aromático nardo e da mirra avermelhada. Ali se acomoda e termina a vida entre perfumes. De suas cinzas, renasce um pequena fênix, que viverá outros cincos séculos... Asim, também é a natureza e tudo o que nela existe e persiste.
(Ovídio - Metamorfoses, de que eu aprendi a gostar com Pandora).

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011


Princípio da identidade: elle é elle, elle mesma consigo mesma a mesma.



de volta ao blog.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O SIGNO DA VIOLÊNCIA - Diário Catarinense do dia 7 de janeiro 2011

Como de costume, li os jornais do dia entre um e outro gole de café preto da manhã. E então percebo novamente aquilo que me assusta dia sim, dia também: as manchetes sobre violência, que reclamam cada vez mais repressão.
Ok, vá lá, todos queremos nos sentir seguros. Ocorre que se inverteu o sentido da terminologia segurança.
O editoral da página 10 diz: "A violência vai para onde vai o dinheiro e para onde há menos repressão".
Não seria mais correto dizer que a violência é a mesma face da moeda da desigualdade? E aqui não me refiro tão somente a desigualdade econômica, mas também à desigualdade política, social, de gênero e similares. Quanto maior o grau de desigualdade material em uma sociedade - como a sociedade estratificada brasileira, na qual a igualdade formal, ou seja, perante a lei, não obsta a manutenção e o crescimento da desigualdade - maior o grau da violência, seja ela simbólica ou física.
Daí que, ao invés de voltarmos ao contratualismo inglês de Locke e, como fazem muito bem alguns:
a) dividirmos o cidadão do 'meliante'/'indivíduo (não sujeito)'/ 'marginal';
b) dividirmos os espaços público do privado, sendo que no público devem transitar somente os cidadãos-sujeito, com toda a segurança que mereçem, ao contrário dos indivíduos-marginais, que devem ficar restritos ao âmbito privado e sobre quem deve recair a força repressiva.
Como foi dito: em Jurerê, durante o ano novo, também tinha bastante 'malaco'. Realmente, uma surpresa, deveriam ter ficado em casa.. Surprese de ouvir tamanha besteira, como se a praia, espaço público, fosse propriedade privada do 'sujeito'. Que tal nos preocuparmos também com uma maior igualdade material? Com certeza a violência não seria tão alarmante.