sexta-feira, 11 de julho de 2014

Dia após dia

Deixei partir uma das últimas pessoas que acreditou em amor verdadeiro. Talvez porque eu não soube sentir a verdade, de verdade. A ausência se sente quando há falta, mas não quando tudo é pleno. Foi Neruda quem disse que está proibido a não sorrir aos problemas, a não lutar pelo que quero, a abandonar tudo por medo e a não converter em realidade os meus sonhos. Foi com medo da morte que me apeguei à vida e percebi que só viverei esta vida uma única vez. Foi desse apego mortal à vida que decidi que ela apenas possui dois caminhos. Ou ela caminha, dia após dia, para o seu fim. Ou ela caminha, dia após dia, tornando-se plena. Decidi então acordar todos os dias, de hoje em diante, e escolher ser feliz. E assim viverei todos os meus lados e minhas múltiplas personalidades. Opto por cultivar meu lado mais sombrio, a chorar minhas angústias e a sentir meu luto. Opto por manter em mim toda a maldade que possuo, porque só meu lado sombrio me permite conhecer o meu lado claro e leve. Opto por sentir em mim toda a bondade que existe no mundo. Decido acordar todos os dias e lutar pelos meus sonhos, até que eles se tornem realidade. Opto por não cultivar expectativas, jamais, mas a nunca perder a esperança. Opto por me apaixonar, quantas vezes forem necessárias, para viver com frio na barriga e sentir uma trava na garganta, ainda que eu venha a me apaixonar sempre pela mesma pessoa.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Cedendo espaço...

Hoje vi um menino olhando atentamente o sol brilhar da sua janela. Seus olhos pareciam longe. O pensamento voava e nele repousava uma sensação de alívio, diante daquele maravilhoso dia que anunciou o fim da tempestade passada. O canto dos pássaros se tornou trilha daquela manhã. A rua ainda deserta era palco de mudanças e abria espaço para os transeuntes que aos poucos apareciam. Nada era em vão. Mas também não fazia sentido. A tempestade era o que unia as pessoas daquela cidadela. O sol raiou. E agora? Agora é preciso recomeçar falou o menino a dois senhores sentados à sarjeta. A noite chegou e todos, ainda na rua, pareciam perdidos. Na manhã seguinte, novamente o sol. E ele durou por ainda oito meses radiante e muito quente. Não bastou. Ainda que inconscientemente, todos aguardavam ansiosos por uma nova tempestade que pusesse fim àquela angustia da distância. E finalmente a tempestade chegou, fechando portas, trazendo poeira, arrebentado os lares, com a força mais pura da natureza. Só assim pode-se ter certeza de que os tempos de sol também poderiam ser proveitosos e que havia uma intensa contradição na vida de cada um daqueles que ja não mais habitavam o lugar dos pensamentos.
Por BSB.
18.03.2012

sexta-feira, 9 de março de 2012

o que ficou entre o passado e o presente


O livro permaneceu intocado por alguns minutos
e Elle percebeu-se acordada
novamente de volta ao presente
sabe-se lá aonde estava.
Foi como se o próprio livro tivesse criado uma história a parte
e sem querer, Elle havia voltado ao passado.
Lembrou daquela época na qual viveu o mesmo presente.
E eu lhe perguntei: mas você e esse passado, nunca foram tão próximos, não é?
No olhar de abismo, d'um lugar que não era nem presente, nem passado..
ela disse: na realidade, foram tantos não-ditos, murmúrios silenciados e olhares velados, que esse passado ficou suspenso,
nunca acabado.
E suspenso numa realidade, ele não se assentou
E então ele pertence a dois mundos, ficou sem morada
Assim que, por vezes, o presente é passado...
e o passado é o presente que nunca se concretizou.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Labaredas




O sol do dia já havia cedido lugar à noite, mas a escuridão não conseguiu esconder o brilho daquela meia lua que cresceu no céu, iluminando todo o espaço no qual ela havia sentado. Ela, elle, tão comum que de fato lhe chamavam de aquela menina, mas ao mesmo tempo tão
única que poucos conseguiram penetrar por detrás do olhar incógnita que fascinava e causava certa inquietação.
Naquela noite, ela só queria ver o verde da mata que, à sua frente, queimou ardorosamente, até que seus próprios olhos viraram labaredas de fogo.
Foi aí que a lua feiticeira, repleta dos encantos d-ela, deixou-se cobrir pelo manto das pesadas nuvens negras. E o céu respondeu com fogo e água. Trovejou, relampejou. Mas ela nada via do dia claro que se formou em noite, tão cega das chamas daquela mata verde ao seu redor. Ela apenas sentia o início do frescor das gotas que delicadamente caiam do alto
e escorriam pelo seu corpo.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Em homenagem ao A. pela conversa de hoje.
Porque me permitiu, se não se importam, um link com o livro de P.
Nem a perfeição, nem tampouco a verdade existem.
Mas aí está o ponto legal (pelo menos eu me convenço disso).
Busco a perfeição, cada dia mais, mesmo sabendo que à ela não chegamos,
assim como a ciência busca a verdade, embora à ela apenas se aproxime.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Fome demais



E anda com tanta fome...

Fome de literatura, fome de poesia, fome de aventura e fome de melodia.

E anda com fome de partir, fome de viajar, fome de sentir, fome demais para acordar.

E anda com fome de se despir, de imaginar, de não controlar, de cair.

Fome de cair caindo, de deixar o vento segurar, o coração palpitar, o medo superar.

Fome dessa gravidade, que para sentir, não ter idade.

Fome de não querer apertar o botão, só quando quase atingir o chão.

E daí, fome de tocar a terra molhada, fome do sereno que cai durante a madrugada.

Fome de deitar na relva, sob a luz do luar. Fome de sentir na pele, fome de aliviar.

E essa fome de sonhar acordada, de olhar para o nada.

Fome demais, até ficar breve...

domingo, 17 de abril de 2011

“- Sabe.. eu ainda tenho vontade de viver aquela história de novo.”. Ela me disse.

.

- E por que não?

.

“- Ah.. já ficou no passado. Acho que agora eu poderia viver ela de uma forma mais madura. Com toda a podridão, se eu pudesse voltar atrás, ou melhor.. começar de novo.. Porque acho que hoje eu viveria sem aquela cegueira da paixão e, ainda assim, sedentamente, com uma sede de paixão sem fim.”.

terça-feira, 12 de abril de 2011

O funil(a)


Uma conversa a três a respeito, nos desculpem o pleonasmo, do funil que afunila. Que afunila cada vez mais, ao ponto de um dia, talvez à contragosto, não passar nem uma gota d'água rubra com gosto. Azeda, azeda essa ideia que de, tão só, evapora a gota que pelo funil não desce. Se desvanece. Conversam a música, o aroma e o sabor. Conversam a solidão, a ausência e a vontade de potência. Conversam sobre isso que é e não é. Sobre um futuro que, de tão longe, é sentido ao lado. O futuro que mora ao lado. Conversam sobre o que pode ser e o que virá a acontecer. E daí tentam transformar tudo o que falam no não entendível, no não audível, na falta. Pois a melodia invadiu e tornou tudo um vácuo, em espaço branco que, de tão branco, não é relativo e não se sabe branco.