sexta-feira, 7 de maio de 2010

Não somos uma geração sem chão


Ausente a ditadura militar e as ideologias contrapostas, nos dizem que nossa geração revolta-se sem causa. Imersos em uma cultura do controle, não nos enganemos. Erguemos nossa voz para nos revoltarmos contra a ausência da dignidade humana. Compreendendo a importância das normas legais de garantia dos direitos dos cidadãos e cidadãs, sejam elas nacionais ou internacionais, Herrera Flores atentou-nos para o fato de que direitos não criam, nem nunca poderão criar, direitos.
Não temos direitos pelo simples fato de termos nascido humanos. Se assim o fosse, uma criança nascida no sul do Brasil teria as mesmas condições de ter uma vida digna que uma criança nascida no nordeste do mesmo país. Se assim o fosse, o sistema capitalista neoliberal ocidental não garantiria os direitos individuais em detrimento de direitos sociais. Vivendo em meio a uma retórica quase perfeita, mal nos damos conta das falácias do discurso do direito, de que a ilusão pregada não corresponde aos fatos. Se pensarmos nos índices de analfabetismo, de mortes ocasionadas por doenças evitáveis e muitas vezes já extintas, na marginalização do oprimido, veremos que direitos não criam direitos.
Não paramos para pensar que nosso Sistema Penal apenas criminaliza a miséria e, apenas como exceção (para garantir a ilusão de neutralidade) os crimes de poder econômico. Deixamos de refletir sobre a marginalização do oprimido, do excluído, dos grupos sociais que lutam a favor de sua dignidade. Não mais pensamos na fome, na indiferença generalizada com relação ao outro, na alienação gerada por essa cultura do controle da mente e do corpo, seja da própria ação, seja do pensamento, do desejo ou da paixão. Pensamos menos ainda sobre a democracia na qual vivemos: quais escolhas fazemos? Quem escolhe nossos representantes, já que estamos todos desiludidos e desconhecemos as propostas de governo?
Usemos nossa voz para dizer: temos sim motivos para a revolta. Quebremos então o mito de Sísifo. Usemos nossa voz a favor da recuperação do político em cada cidadão e cidadã, da educação, da diferença, do multiculturalismo, do respeito, de uma sociedade plural. Principalmente, nossa revolta para a construção da dignidade humana, para que, acima de direitos já positivados, todas e todos possam ter os meios para lutar por uma vida digna, possam sonhar, construir a realidade não qual anseiam viver e criar uma sociedade solidária baseada na identificação e no amor.

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