terça-feira, 15 de setembro de 2009

Estrangeiria

A mais valia vale. Mas vale pouco. Não vale nada.
Mas o mercado é (auto)regulado. Na verdade, (auto)regulada é a sociedade. Regulada virtualmente por um ser invisível. Uma mão. Uma mão invisível não da economia de mercado, mas da sociedade de mercado.
Contudo, essa invisibilidade é natural, é estrutural, pois 4/5 da população mundial é invisível. Na verdade, não são invisíveis, são invisibilizadas. São vítimas apagadas. São vítimas da miséria de uma sociedade estrutural. São o entorno, são o outro. Sempre estrangeiros dentro da própria casa, no ventre da própria mãe. São vítimas abafadas e sem voz de uma violência cíclica, de um mercado (auto)regulado por uma mão invisível que os relega à estrangeiria.
O estrangeiro é sempre o outro, o indesejável. São aqueles que estão ao lado, mas não se vê. São os que habitam os morros, a periferia, os suburbios, os banlieues. Mas a sociedade já cumpriu seu papel. Já os colonizou e imperializou. Concedeu-lhes até direitos, direitos humanos. Não obstante não serem humanos, são estrangeiros. São aqueles que morrem de fome, de sede e de doenças evitáveis e já extintas. São aqueles que só fazem alimentar a criminalidade urbana. Mas todos têm direitos, porque, em que pese ter perdido condição de humanos, nasceram humanos. Todos têm direitos, até mesmo positivados, mesmo sem saber que os têm, mesmo antes de poder exercê-los, mesmo antes de lutar por sua idéia de dignidade. São o entorno. São estrangeiros.