sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O SIGNO DA VIOLÊNCIA - Diário Catarinense do dia 7 de janeiro 2011

Como de costume, li os jornais do dia entre um e outro gole de café preto da manhã. E então percebo novamente aquilo que me assusta dia sim, dia também: as manchetes sobre violência, que reclamam cada vez mais repressão.
Ok, vá lá, todos queremos nos sentir seguros. Ocorre que se inverteu o sentido da terminologia segurança.
O editoral da página 10 diz: "A violência vai para onde vai o dinheiro e para onde há menos repressão".
Não seria mais correto dizer que a violência é a mesma face da moeda da desigualdade? E aqui não me refiro tão somente a desigualdade econômica, mas também à desigualdade política, social, de gênero e similares. Quanto maior o grau de desigualdade material em uma sociedade - como a sociedade estratificada brasileira, na qual a igualdade formal, ou seja, perante a lei, não obsta a manutenção e o crescimento da desigualdade - maior o grau da violência, seja ela simbólica ou física.
Daí que, ao invés de voltarmos ao contratualismo inglês de Locke e, como fazem muito bem alguns:
a) dividirmos o cidadão do 'meliante'/'indivíduo (não sujeito)'/ 'marginal';
b) dividirmos os espaços público do privado, sendo que no público devem transitar somente os cidadãos-sujeito, com toda a segurança que mereçem, ao contrário dos indivíduos-marginais, que devem ficar restritos ao âmbito privado e sobre quem deve recair a força repressiva.
Como foi dito: em Jurerê, durante o ano novo, também tinha bastante 'malaco'. Realmente, uma surpresa, deveriam ter ficado em casa.. Surprese de ouvir tamanha besteira, como se a praia, espaço público, fosse propriedade privada do 'sujeito'. Que tal nos preocuparmos também com uma maior igualdade material? Com certeza a violência não seria tão alarmante.