segunda-feira, 3 de maio de 2010

Educação para a liberdade: vespas ou humanos?

Acreditar no acaso, que traz consigo tudo o que precisamos ouvir em um determinado momento, porque ele se perpetua ciclicamente. São possíveis coincidências diárias? Ao ler “Sobre palavras e redes” – “Conversas com quem gosta de ensinar” – Rubem Alves), percebo que tenho que ler e reler os parágrafos mais de uma vez, pois em qualquer prosseguimento da leitura, há uma interrupção de pensamentos que distanciam e aproximam minha mente do que foi lido e do que é vivenciado.
Ao contrário das vespas, ou quaisquer outros animais, para os quais o comportamento – “aprendizagem” – é instintivo para a perpetuação da espécie, o que os polpa que qualquer sofrimento e angústia, mas reduz suas vidas à chegada da morte; o caso dos animais humanos é diferente.
Se, como diz Morin, o humano apenas nasce humano, mas deve aprender sua humanidade, a genética ocupa apenas um plano de fundo no desenvolvimento da vida.
De tal forma, a humanidade só se desenvolve dentro de um espaço de consenso, em uma cultura, é ensinado, é aprendido. Ou ainda, seguindo os passos de Fernando Pessoa: “Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim”. Tal como acontece com os demais animais, “a contínua obra de nossa vida é construir a morte” (Montaigne). Todavia, como dizia Sartre, embora desde o momento do nascimento, caminha-se para a morte, nesse meio tempo há vida. O que fazer nesse meio tempo?
Uma vez que inexiste natureza humana, mas ensino-aprendizagem do conhecimento humano através da linguagem, como transformar a educação em um espaço para humanizar o humano? Ludwig Wittgenstein entendeu os limites do nosso mundo como os limites da nossa linguagem. Quando há linguagem, o objeto não mais está presente, pois se estivesse, a linguagem seria supérflua: é uma criação de representação de algo que não mais é. Uma vez que a realidade é criada pela linguagem, o que não equivale a dizer que não existe o objeto em si, mas que o humano vive o objeto para si, como utilizar a linguagem para a construção de uma nova realidade? Será possível transformar os limites do mundo humano de uma forma planetária, não visando uma igualdade cultural, que não seria desejável pela anulação da diferença na identidade; mas por um planeta realmente humano?
Rumar para uma sociedade mais justa e igualitária? Como falar em diminuição das angústias quando, igualmente, se fala em mal do século (ou do novo século)? Como diminuir vazios existenciais, além da luta contra o frio e a fome identificados por Orwell? Além disso, para minhas perguntas, não quero respostas ou universalismos de chegada (como em Herrera Flores). Quero sim, novas perguntas. Quero que os universalismos de chegada se transformem em pontos de partida. Com respostas, não saberia viver.
Considerar a educação do humano, portanto, não apenas como preenchimento temporal para a perpetuação da espécie – vida e morte –, mas como forma de libertação do humano para que, em sua “fadada” liberdade, possa viver intensamente em sua humanidade e co-construir o mundo no qual pretende viver. A educação como simples reprodução – Bourdieu –, como arquivamento mecânico de idéias e pensamentos desconexos, apenas equivaleria a transformar o humano em vespa.
Sendo metade razão (ou pseudo-racionalidade obscurecida por ilusões) e metade paixão (ou pulsão), o humano precisa de uma educação para a humanidade, para a construção de sua dignidade humana (vida digna de ser vivida), na qual se insira a reflexão e a autocrítica. Precisa de sonho, de música, de pintura, de poesia: de arrepio, de sentimento, de emoção, precisa transpor-se. Precisa de multiculturalismo, de cores, de diversidade. Como proceder?

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