sexta-feira, 18 de junho de 2010

Lado a lado




Duas cadeiras. Lado a lado. A mesa em frente, baixa e de maneira escura. Um copo, talvez meio cheio, talvez meio vazio. Uma taça na qual se via apenas a intensa cor do vermelho escuro que manchava o cristal. A noite estava calma, a rua vazia, sem pessoas passando, sem carro, sem barulho. Som do vento, das palavras ditas e das palavras não ditas. O céu baixo, céu das onze. Escuridão clara. De tão escuro o ambiente, o céu refletia um tom rosado que iluminava a casa. Ameaça de tormenta sem tempestade. As árvores da casa da frente pouco se mexiam; apenas balançavam alguns galhos secos que projetavam sombras nos gatos que, despreocupadamente, brincavam no jardim. Era uma noite como qualquer outra, mas o tempo parecia ter parado. Não havia mais nada, somente aquele momento. Ela desatou a falar. A cabeça inclinada para trás, os olhos semicerrados. Sobre tudo. Sobre absolutamente nada. As palavras brotavam da boca, abria e fechava sem parar. Não havia reflexão. Falava tudo o que tinha em mente, sem qualquer coerência entre as frases, sem sentido. A coerência era interna, era jogar ao ar ondas que se transformavam, mas que vinham de um estado de pureza mais profundo do ser. Gesticulava pouco, voz baixa. A calma que precede a tormenta. Sozinha, nada faz sentido, a felicidade tem que ser compartilhada, ela disse...Mas o futuro não é previsível, não pode ser controlado...Me mantive em silêncio. Escrevia.
(17.06.2010)

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