terça-feira, 8 de junho de 2010

Sensibilidade

(Dalí - Geopoliticus Child Watching the Birth of the New Man, 1943)
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Para além das normalmente citadas cinco potencialidades dos sentidos humanos, a sensibilidade. A sensibilidade como próprio sentido da vida. Sensibilidade é coração, é pulsão. É racional na irracionalidade. É o dito no não dito. É olfativa, mas não se reduz ao olfato. Remonta lembranças, projeções, sonhos perdidos, sonhos reencontrados, sonhos futuros, sonhos ardidos. É o brilho do olhar que não brota da visão, senão da intensidade da vida vivida. É arrepio. Não de frio. Não de calor. Arrepio de um corpo em desejo ardente submerso em gelo. É o tudo e o nada. É o fecundo e o vazio. É audição que não se traduz em língua humana. É supra-humana. É polifonia de significações. É uma ausência de tempo. É voar sem asas e andar sem sentir o chão sob os pés. Logo se percebe que os olhos nada vêem. São apenas instrumentos a fazer brotar os sentimentos. Logo se entende que não se sente com as mãos, sente-se com o corpo inteiro. O perfume tampouco é percebido pelo olfato. É marco do infinito que se faz presente, que encanta e que transporta. O paladar não é fome, é desejo que tão logo saciado volta a emergir. Sensibilidade é emoção, é desejo, é paixão.


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