domingo, 27 de junho de 2010

(Munch, E.)
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Às vezes o início vem apenas para selar o fim. Mas, por menor que seja uma história e, por mais que passe desapercebido, sempre existe um ponto de começo. Devo confessar que o enjôo de hoje se deve ao início do dia. Tudo começou na primeira hora da madrugada, em um lugar do sul. Chegamos no instante em que o último cliente deixava o local. Éramos oito, provavelmente. Alguns sentados nos bancos que estavam ao redor das três mesas da varanda. Outros sentados no chão da escada em frente à porta. Dentro, a luz baixa confiava ao ambiente um ar portenho, traduzido pelas fotos de tango pregadas nas paredes. Fora, a vida gargalhava sob um manto de estrelas. Um pouco de segredo. A melodia melancólica que gritava do fundo dos instrumentos musicais. Tudo junto transformando-se na poesia do momento em que não poderia haver preocupação alguma. O calor aconchegante do vermelho que, como chama ardente, impedia a passagem do ar frio d’uma noite de quase inverno. Dessa vez, fui eu quem desatou a falar. O que me impedia de pensar, o guardado, o não-admitido, o não-dito, o censurado, o que não gostaria de sentir. Ela me disse que a vida é simples, não deve ser complicada com questões sociais que, no fundo, não importam. O prestar contas é sempre com o eu. As horas passaram e a angustia se transformou n’uma quase falta de ar. Agora só nós duas. O colchão na sala. A janela aberta. Ela, deitada de lado, queria um post só dela. Fios loiros que, demoradamente, escorreram e cobriram-lhe os olhos verdes pálidos. O segredo confessado. O sono chegou.
(26.06.2010)

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