sábado, 13 de novembro de 2010

Como se hace para vivir una vida vacía

B. - Me diga o que achou.
I. - Bom, é um romance, não? E num romance não é preciso dizer a verdade. Nem sempre é verossímil.
B. - Sim... não, não...o que não é verossímil?
I. - Ah, Benjamín! Aquela parte, quando o cara parte para Jujuy. Ele chorando, como se fosse uma perda! E ela correndo pela plataforma como se estivesse perdendo o amor de sua vida, tocando-se as mãos através do vidro, como se fossem uma única pessoa! Ela chorando, como se soubesse que lhe esperava um destino medíocre, sem amor. Quando caindo sobre os trilhos, como se quisesse gritar-se um amor que nunca tinha confessado!
B. - Sim... mas foi assim, ou não foi assim?
I. - E se foi assim, por que não me levou com você? Seu lerdo.
I. - E como vai continuar a história?
[...]
B. - Eu não quero deixar passar tudo de novo. Como pode ser? Como é possível que não fiz nada? Há vinte e cinco anos que me pergunto e há vinte e cinco anos que respondo a mim mesmo: foi outra vida, já passou. Não pergunte, não pense. Não foi outra vida, foi esta! É esta. Agora que entendi isso, como se faz para viver uma vida vazia? Como se faz, para viver uma vida cheia de "nada"? Como se faz?
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Uma das partes mais belas do filme mas, ao mesmo tempo, me põe a refletir. Passou-se uma vida inteira, vinte e cinco anos, uma vida de vida vazia. E aí, vazia porque no amor, a matemática muda: 2 - 1 não é = 1, mas "0".
Tocam-se as mãos como se fossem uma única pessoa e assim, quando um parte, perde-se "metade". Por mais que me toque profundamente, não acredito na possibilidade de esse amor que perdura no tempo, à distância e somente um sentimento avassalador de perda do que se deixou para trás. Arrependimento. A cada segundo mudamos, nós mesmos e o outro. Já não somos mais o que somos, não somos absolutamente nada, mas um conjunto que se transforma e reinventa em todos os milésimos de segundo. Se eu já não mais sou eu, o outro tampouco é outro.
E ainda assim, ama-se a imagem congelada de um outro no tempo. Captura-se. Mata-se o outro definindo-o num algo que ele não mais é e talvez nunca tenha sido, mas que apenas minha imaginação criou. Passou-se vinte e cinco anos amando aquele "picolé" que provavelmente já derreteu ou já saiu da validade.
O gosto mudou...
O paladar se refinou...
Choro, então, meu próprio vazio existencial, que nesse momento muito tem me incomodado. Mas nunca de amor congelado. E por isso sempre digo que a maioria das pessoas nunca vão voltar para um ex. Pode-se até voltar, mas somente até perceber que a nova pessoa, que também está sempre em constante transformação, não mais corresponde à imagem perdida no tempo e no espaço que mantínhamos em nossa cabeça. E por isso, o mais importante de tudo é viver os sentimentos, sem definí-los, sem matá-los, sem medo. E assim, sentir até sufocar. E viver intensamente significa tão somente viver a intensidade dos sentimentos. Significa permitir-se. Se abrir para sentir. Porque será impossível sentí-los no futuro, após se ter embarcado no trem.

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