sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Confundia-se. Quase autista, pegou a cópia d'um livro que nunca leu, que nunca leria. Uma caneta brinde que manifestava a vontade de não funcionar. No mesmo instante em que (f.) cantava a bênção de seu orixá, o samba ressoava ao fundo e se fundia à canção de solidão entoada involuntariamente pelos lábios de (I.). A melancolia somente foi se dissipando aos pouco e muito lentamente. Elle percebia o vazio do próprio ser, numa dita psicanálise coletiva que a fez perceber que ela não era mais a sedutora que se perdia no espelho dos próprios signos. E aí se lembrou d'uma conversa em que lhe foi dito que a segunda possibilidade de se conhecer um eu-nunca-eu é quando se sente. Ou, como se pode preferir, quando se ama. Embora o ama somente pode definir e cerrar o sentimento que, quando não aprisionado em um signo, dança tango, samba, rock, canta, envolve, desenvolve... com maior ou menor intensidade. Aparece um outro que nunca será amado-sentido por si, mas pela sensação de descobrimento que permite a que sente, fazendo com que percebemo-nos nossas reservas inconscientes, vontades, sonhos, fantasias e uma possibilidade de um eu-renovado, jogado no tempo e no espaço, no nada-todo, no futuro, num vir-a-ser algo. Uma vontade. E assim, tornou-se elle autista alegre e melancólica, que sonhou acordada mas que dorme na realidade que não se recorda ao despertar, sem perder a calma e a tranquilidade ante a perspectiva. Pois elle sabia, fingia que sabia, fingia que não sabia. No fundo, nada nunca soube, pois sempre duvidou de tudo. Justamente, a dúvida de não saber se sabe ou se não sabe é que a-tormenta e faz chover. Um brinde regado a Mercedes Sosa - Todo cambia.

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