"Quando Descartes montou sua metafísica, distinguiu o que chamou de corpóreo, o que ocupa espaço, do que chamou de pensamento, o que não ocupa espaço. Instituiu o que os historiadores da filosofia chamam de “dualidade cartesiana” de corpo e mente. Uma das noções metafísicas de substância, vinda de Aristóteles, era a de “sujeito de predicados”. Os filósofo modernos uniram isso: se a substância é sujeito de predicados e uma das substâncias é o pensamento, lhes pareceu mais ou menos correto dizer que o sujeito é o pensamento. Daí para dizer que a mente e o sujeito são uma e mesma coisa, bastava menos que um passo. Foi assim que a noção de identidade individual se fez. O sujeito filosófico ou, em termos sócio-políticos, o indivíduo, passou a ser caracterizado pelos seus pensamentos – o que se expressa na sua linguagem e atos.
Essa idéia de identidade do indivíduo prevaleceu durante toda a modernidade. Tal barco só fez água no final do século XIX. Foi a partir do início do século XX, por uma série de situações, realmente a noção de identidade começou a mudar. Ou melhor, passou a deslizar. Até então, o que parecia mais perene e, assim, semelhante ao que seria próprio de uma identidade, era o pensamento. Mas, sabemos bem, o homem do século XX abriu caminho para algo novo, ou seja: a mudança de pensamento. Alterar crenças, valores e projetos em um mundo em contínua transformação rápida passou a ser uma necessidade e, assim, logo a alteração moral e cognitiva deixou de ser um pecado para ser uma virtude. O que então garantiria a identidade? A segunda parte do que chamamos de eu assumiu o posto: o corpo. O século XX é o século do corpo. [...]"
(Por Paulo Ghiraldelli Jr.)
Leia mais: http://ghiraldelli.wordpress.com/2010/02/10/a-culpa-e-do-corpo/#more-2100
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JORGE DA ROSA