quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Anaïs Nin, uma das minhas escritoras preferidas, por Deena Metzger. Livros publicados: A casa do incesto, Delta de Vênus, Em busca do homem sensível, Henry & June, Incesto, Passarinhos, Pequenos Pássaros, Uma espiã na casa do amor. Em virtude de que a tradução integral do vídeo foi por demais longa, decidi por bem excluir algumas partes que considerei repetições. Tradução abaixo (espero que sem erros de compreensão).

É estranho quando uma mulher passa a vida tornando pública a sua vida privada. E nós começamos a nos questionar quem é essa mulher e é curioso para mim ouvir tais reflexões. É claro, tudo o que falaram é familiar e algumas coisas eu mesma pretendo dizer, para enfatizar bem. Mas isso não é, contudo, a mulher que conheci. E, ao mesmo tempo, é. Porque mesmo quando você torna sua vida pública, embaixo disso, há uma outra vida que não foi “performance”. A importância é chegar à vida “escondida”, de onde a riqueza do seu trabalho emerge. E no drama, que ela era parceira de tempo integral em narrar publicamente, nós perdemos a mulher que ela foi, nós ficamos distraídos pela sua beleza, pelo seu teatro, pelo seu drama ou pela sua coragem. E então esquecemos que estamos na presença de uma mulher que viveu por meio de seu trabalho e esquecemos que estamos na presença de uma mulher que decidiu ter sua própria vida. E esquecemos que havia um tempo em que isso não acontecia, quando mulheres não poderiam ter suas próprias vidas. Ela percebeu que ela estava sendo esmagada entre o selvagem mundo masculino e o profundo entendimento que ela tinha de que o feminino poderia trazer um presente ao nosso tempo. Eu não sabia que iria dizer isso, mas me parece essencial, mais essencial do que as histórias que iria contar.

O que significou, ao tempo em que ela viver, trazer o conhecimento dos sonhos ao mundo. É algo que nós dividimos profundamente e reflito agora aonde coloquei isso em minha própria vida, porque estou muito envolvida em contar os sonhos, mas em contar os sonhos à moda antiga, do modo tradicional. Mas me pergunto se eu também poderia ser tão sensitiva quanto aos significados dos sonhos se não tivesse passado tantas horas com Anais, falado de sonhos, seus significados, suas possibilidades e a ideia de que algo fala em nós de outro lugar – ela trouxe essa ideia e colocou no diário, na articulação da vida de cada um, o quão importante é, além da intimidade, da pessoalidade (vida privada, o eu). E talvez ela teria que ser mesmo essa beleza selvagem para que todos lhe dessem atenção.

Mais do que qualquer outra coisa que quero que vocês levem a sério é entender que ela era uma mulher brilhante, com um ótimo intelecto, e que todas as festas e os encontros aconteceram em virtude de que ela reconhecia inteligência e beleza e queria se conectar a isso. E queria financiar. Ela era devota a isso. Eu a conheci em 1964, quando fui convidada a ir a casa de um amigo músico que toda a sexta-feira ou algo do gênero tocava em quarteto. Uma noite, quando estive lá, tinha uma bela mulher sentada no canto, escrevendo. Em 1964 eu tinha 28 anos. Ela tinha provavelmente 16. Eu não sabia quem ela era. (E ela começou a ler) “Quando ela costurava botões para ele, ela costurava não somente botões, mas as ideias desconexas dele, das invenções dele, dos sonhos não finalizados dele, […] ela costurava e remendava o que ele desconhecia de conexão e reparo [...]”. Era uma mulher maravilhosa que não conseguia que seus textos fossem publicados. Eu era uma jovem escritora e nunca antes havia visto refletir o mundo interior na literatura contemporânea.

(Continuou a ler o livro) “[...] e a primeira vez que ele olhou para ela, vestida de vermelho e prata, ele sentiu que tudo iria queimar”.

6 comentários:

  1. um resumo bem breve e objetivo "muito show"


    bjsss

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  2. Leilane achei espetacular! Não conhecia a Sra.
    Essa ideia de manter resguardada uma raiz profunda, é dos grandes mistérios. Revelar-se nunca é o bastante, existe sempre o que fica de não-dito, até quando nos desnudamos.
    Ótimo post

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  3. Muito obrigada Paulo. Esse tornar pública a vida privada é uma das coisas que eu sempre me questiono quanto a real possibilidade. Até que ponto realmente é o eu que está se desnudando. Sempre há o não-dito. Muitas vezes, até o não-sabido, não-compreendido ou mesmo não-percebido. E outras, a gente esconde mesmo, né. Mesmo os dois existencialistas mais famosos, Simone e Sartre, que buscaram fazer de sua vida privada uma forma de manifestação pública; e quando a Simone foi entrevistada, após a morte do Satre, contou que muitas coisas foram escondidas (o que tamém se pode ler no livro Cartas ao Castor). Fico feliz que tenhas gostado.

    Vou adicionar seu blog, adorei!!! Acabei de conhecer!

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  4. Gosto muito da tua atitude, Leilane! Parabéns e muita sorte e bons caminhos pra ti. Continuarei acompanhando as boas novidades do teu blog.

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  5. Luís!!! Que bom que você comentou aqui!!! Agora tenho acesso aos teus blogs também!!! grande abraço :)

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